10.6.14

Viva Portugal!



Oito séculos de História para darem numa Nação subjugada pelo Estado, Estado ocupado pelo Governo, Governo dominado pelo capital tornado Europa, Povo tornado vulgo.
Oito séculos de História a desembocarem na palavra Pátria se ter tornado tão vazia de significado que morta de sentido está, e até parece mal.
Dia de Portugal de portugueses mansos e submissos, os que periodicamente elegem, julgando escolher, os do partido dos seus donos, escravos da falsa liberdade de votar, os que na urna depositam, qual funerária fosse, a morte da sua intervenção civil, dia dos que se submetem ao que vier, por já não quererem sequer saber, fantasmas da cidadania, sonâmbulos do pesadelo que é estar-se aqui.
Dia também da hora dos contentinhos e alienados de Portugal, hipnotizados por qualquer imbecilidade televisiva do raiar da manhã ao cair da madrugada, dia dos raivosos e ululantes, sim, mas no futebol à hora do golo, dia dos demais a acomodarem-se pela desilusão que é a velhice da alma, mendigos do tostão e do se faz favor, fado da viela da pouca sorte, dia do penduricalho a rodos e do festim comemorativo das senhoras autoridades.
Dia do carteirista a sonhar-se burlão, da corista que podia ser actriz, do doutorado a teclar em caixas de supermercado, dia em que a reforma já foi quase devorada por ser dia dez, dia do ócio feito estudo, da sortuda ponte por ser feriado e em Lisboa feriado logo a seguir. Dia do nada e do coisa nenhuma.
E, no entanto, na sombra dos covis e das mansardas, onde nem a História os surpreende, há loucos por ideais que são de razia do tudo mesmo que para nada, ido que foi já o Império e com ele o ouro e a pimenta, os Brasis e as Índias da aventura e da pilhagem, esquecidos os heróis que a febre matou e a espada da traição dos seus liquidou de vez, doente de morte que está o Ocidente de que somos rosto esfíngico e fatal, nesses tugúrios da raiva, sozinhos que estejam, mortos que venham a ser pela explosão da bomba incendária que tudo isto merece, há um Portugal a ressurgir.
Dia de esperança, pois, em que do sombrio e do desespero, se abra, como uma salva de clamores e de revolta um "Viva Portugal", "Portugal, tu não morrerás!"

1.6.14

O triunfo do escárnio de do mal dizer


Abriu fogo, abatendo-os, a um e um, os ministros do PSD com quem agora está coligado. Enxovalhou banqueiros, que o seu Governo agora protege, políticos com os quais agora convive, a "porca da política" que é agora o seu lugar de frequência. 
Ridicularizou, apoucou, gozou que se fartou. Às suas mãos tudo foi escárnio e mal-dizer. Tudo quanto mexia abatia.
Fê-lo através de um jornal que franqueou à época todos os limites do admissível.
Entre as verdades que importava assim denunciar, publicando-as, e as mentiras publicadas que nunca foram como tal denunciadas, a tiragem subia e com ela os lucros dos seus financiadores.
Hoje, ante os jornalistas que o cercam de mão estendida por uma declaração "dá-se ares". E tudo resulta, porque em Portugal é assim que actualmente resulta.
Isto porque hoje, travestido na roupagem engravatada que os adultos vestem, ganhou a pose que no Estado se usa, está ministro. 
Já não traz o lápis atrás da orelha.
Impune, o jornal já fechado porque instrumento que foi do seu trepar a esacadaria do poder, diz que está «arrependido».
Não tem de que se arrepender! É assim que lá se chega, é desta massa que eles se fazem.
O mundo de ontem ensinava bons modos e tento na língua. Evitava-se o ataque pessoal. O combate era de ideias, não de vilipêndio.
Essa compostura dos conservadores atirou-os, entretanto, para o lixo do ridículo, como de uma senilidade bacoca de tratasse. 
A demagogia verbal, o soez do verbo tornaram-se a forma e modo.
Paulo Sacadura Portas começou com o "Independente". A meias com Miguel Esteves Cardoso. Hoje no encontro do «perdoa-me», diz tudo o que pode ler-se aqui.
O destempero verbal que, através dele, a novíssima direita ganhou é, já se viu, o modo de ganhar votos e popularidade. 
Iludida pela aparência, há quem confunda desbragamento com esquerda. 
É assim que nasce o fascismo, com o populismo e o assalto ao poder. Primeiro aos berros, enfim, silenciosamente, pela calada da noite se gerou o domínio da carneirada que qualquer troika pastoreia.
Basta começar em letra de forma. Um dia está-se a escrever no "Diário da República", com força de lei.