7.7.13

O jogo das cadeiras


Houve, na dança de cadeiras, que é a lógica do poder, mudanças. Uns ficaram de pé, outros com o banco mais largo.
Para muitos, o jogo emocionou muito, como nas festas de aniversários de ingénuos adolescentes em que às cadeiras se jogava e se batiam muitas palmas com gritinhos de aflição.
O que interessa, o que verdadeiramente conta em termos do País onde isto tudo se passou, muito poucos parecem querer saber.
Ficou a confiança reforçada em que nos governa? Não ficou, porque a todo o momento, viu-se, um só pode deitar tudo a perder.
Ficou a solidez da equipa governativa clarificada? Não ficou, porque os ressentimentos contam, e mais contam os desapontamentos das cedências.
Ficou afastada a possibilidade de uma nova crise? Não ficou, porque a ministra das Finanças, esvaziada que esteja de poderes, vai continuar a ser um dos elos fracos da cadeia, e o demais é igual ao que já era.
Ficámos mais credíveis junto dos nossos credores? Não ficámos, porque para esses o que conta é a suspeita de que um dia, à conta da nova gerência, o devedor se exima ao pagamento.
A política é um jogo de poder. Esta dita democracia é uma agremiação de gente que quer o poder. A ambição é o aliciante da partida. Depois há as promessas, os programas e até as eleições. Como no verdade ou consequência, os cinco cantinhos, ou um pim-pam-pum! Ora pum!

3.7.13

Ruptura na leiloeira


A sensação de que não é só ter-se escolhido um errado ministro das Finanças, que sai admitindo ter falhado nos objectivos e nas contas, e a de que não é apenas ter-se escolhido uma sucessora que é um pára-raios apta a atrair faíscas incendiárias sobre o Governo.
A sensação de que não é já tão somente os partidos da área do poder político terem esgotado a  capacidade de oferecerem alternativas com credibilidade interna, é o presente e o futuro de Portugal terem perdido qualquer credibilidade no exterior.
A sensação de que assim fosse apenas termos um inactivo Chefe de Estado a mercê de lhe chamarem «palhaço» e a Justiça a achar que isso é uma liberdade pública que faz parte do seu estatuto ter de aceitar porque a tanto se prestou, estarmos ante uma classe de ministros que nem à rua podem vir sem segurança férrea sob pena de serem agredidos pela ira pública, tudo aquém do respeito, aquém da dignidade pública, aquém de o Estado se fazer já respeitar.
A sensação, ainda mal pressentida, é a de que os sacrifícios impostos à esmagadora maioria foram em vão, porque a crise política vai gerar agravamento da crise financeira, vai minar a confiança económica, vai abater definitivamente a esperança na democracia, vai tornar-nos ainda mais pobres.
A sensação, enfim, e que ninguém fala, é a de que na grande hasta pública em que isto se tornou, Portugal é governado pelos administradores da massa insolvente designados pela comissão de credores estrangeiros, o pessoal políticos meros encarregados da venda e agora aconteceu a ruptura na leiloeira. E que, com isso a base de licitação do País descerá para níveis ainda mais apetecíveis à agiotagem que já nos tinha na mão a preço de saldo.
O capital adora insolvências. Na vida empresarial há quem viva a comprá-las. Na vida política internacional aprendeu-se também que é bom negócio.
Ai, porém, de quem trabalha! Esses correm o risco de saírem de mãos a abanar. Na vida judiciária e na vida política é assim. 
O poder não brinca às crises, enche-se com elas. A sensação de que estamos à venda ao desbarato para que se cobrem as últimas comissões de agência.