25.4.13

Não foi para isto que se fez o 25 de Abril!


Não sou um "herói de Abril". Estava, é verdade, no Quartel em Mafra quando ocorreu aquela "gloriosa madrugada". Mas o pelotão de armas pesadas de infantaria, especialidade que me tinha sido atribuída graças a uma informação da solícita PIDE/DGS, a de que eu "não dava garantias de cooperar na realização dos fins superiores do Estado" - informação rigorosamente verdadeira, aliás - era comandado por um tenente que não era afecto ao MFA, donde, por causa dele, ficámos esse dia retidos no quartel, cujas unidades rumaram a Lisboa.
Vi, isso sim, muitos que estiveram, desde o ovo familiar, contra tudo o que significou a democracia, a liberdade de expressão, em suma os direitos cívicos, alinharem desde logo, pressurosos, com a revolução dos cravos e com o socialismo como horizonte. Foi o vira-casaquismo que João Abel Manta tão bem retratou num dos seus cartoons que o já extinto O Jornal publicou. E surgirem, das rectaguardas da indecisão  e do equívoco, muitos "heróis" a clamarem por tudo quanto depois, com prodigalidade, se distribuiu: reintegrações, medalhas, subvenções, lugares, cargos, "tachos".
Não foi, porém, por causa disso que aqui vim escrever.
Deu o 25 de Abril de 1974 em muita coisa. Tornou-se em outra coisa logo no dia 1º de Maio seguinte. Em outra no 11 de Março de 1975. Em outra no 25 de Novembro do mesmo ano. Cada um tem o seu, houve quem os tivesse tido a todos.
Quando, por trabalhar com o Almirante Pinheiro de Azevedo, fiquei cercado na Residência Oficial a São Bento, no tempo em que na Assembleia se discutia e aprovava a Constituição de 1976 que substituiria a "plebiscitada" de 1933, senti que, o poder na rua, a História acelerava rumo a um socialismo que eu não queria. Quando, meses antes, assistira, como secretário do primeiro ministro da Justiça da democracia, Francisco Salgado Zenha, às primeiras transigências ante alguns que tinham servido também nos tribunais plenários, pressenti que a formação de um novo regime passava por cedências ao pior do que fora o anterior. E tanta coisa mais.
Estou aqui apenas com uma frase e por uma frase. Ela sintetiza o que, olhando para o País real que nos é dado sofrer e naquilo em que tudo isto se tornou, o sentir, estou certo, da esmagadora maioria dos que estiveram com Abril no dia em que Abril aconteceu: «não foi para isto que se fez o 25 de Abril».
O resto é, no pardacento das comemorações oficiais, na nostalgia dos que já só comemoram o dia com uns jantares de arrastado e tristonho saudosismo e a dieta gastronómica, pois a idade já não perdoa o reumático e as úlceras, na indiferença de todos os imensos outros, angustiados quantos com o que irão dar de jantar aos filhos, nuns desfiles organizados pelo partido que não desarma, o pútrido fim de um regime. 
Esgotado, vendido, endividado até às orelhas, pejado de oportunistas e de medíocres, que rapa no fundo da gamela das escolhas, gerido pelos administradores da insolvência culposa em que isto se tornou, o Estado vergonhoso, o País triste, a Nação castrada.