23.8.12

O pequeno ditador

O jovem pirralho, infernal, atroava os ares com a guincharia por causa de um «eu quéu!» ridículo, insatisfeito. Cumulava com atirar-se para o chão enquanto, podenga, a progenitora, tentava, mansamente convencer o "Tolinho Manuel" que "o menino sabe que isso não são maneiras". Alheado da questão e afinal da família de que o rebento era a contemporânea expressão, o excelso pai acabou por entrar na liça, porque aquilo que já exasperava os circunstantes, agora já o afectava a ele. Usou a força física para tentar içar, qual grua, o contrapeso da insuportável criaturinha, para que ao menos não rastejasse, esperneante, pelo chão, por onde se espojava, rabicundo, qual lagartixa, restituindo-a à horizontal dos bípedes.
Foi aí que a marginalidade do nanjero entrou em acção, dando pontapés na canela do paizinho e alçando a mão como quem vai numa henriquina de bater na própria mãe.
Em redor um silêncio embaraçado, aqui e além um contido mau instinto a fazer-se de esgar. «O que é que se há-de fazer?» perguntava para o vazio circundante das que conjugam o verbo haver em termos de dar em "hades», que é deus grego para os mundos subterrâneos. «Um chapãdão"» ia eu para alvitrar quando me lembrei que somos nós, os que, arrogantes para com a educação que nos deram, gerámos isto mesmo, os pequenos ditadores.

19.8.12

Pax Germanica

Às vezes as ideias surgem onde menos se espera encontrá-las. Acabei a leitura do livro de Pierre Loti intitulado Os Últimos Dias de Pequim. Nele o seu autor narra o que lhe foi dado observar enquanto este incorporado na força militar internacional que teve de intervir na China para pacificar a sangrenta e devastadora guerra dos boxers. Nessa força integraram-se, lado a lado, tropas francesas e alemãs, além de outras oriundas de diversas Nações, como russas, japonesas, inglesas, etc.
Tudo sucedeu em 1900. Acontece, porém, que trinta anos antes, a "Alemanha" do Chanceler Bismarck e a França se tinham batido na guerra franco-prussiana de que resultaram cento e trinta e oito mil mortos do lado francês, quarenta e cinco mil do lado alemão.
Imagina-se o sentimento de um oficial francês ao conviver agora com aqueles que faziam parte do lado há bem pouco tempo não lhe poupariam a vida. No livro descreve-o como se a um nó na garganta.
Mas não se fica por aí. Em 1914, apenas catorze anos depois, a Alemanha e a França exterminavam-se de novo na que ficou conhecida como a Primeira Grande Guerra, que causou no total dezanove milhões de mortos a todos os contendores. 
Veio a paz com o Tratado de Versailles e, vinte e cinco anos depois, em 1939, de novo a Alemanha em Guerra e a França seria atacada pela Alemanha de Adolph Hitler. Foi a Segunda Guerra Mundial que causou setenta e três milhões de mortos.
Para os que pensam que a paz é eterna e a concórdia com a Alemanha é definitiva basta pensarem. Sobretudo a partir dos mortos.