20.12.10

Macau: foi há onze anos!

Foi há onze anos que Macau, território chinês sob administração portuguesa, foi devolvido à República Popular da China. Formalmente era uma zona híbrida na lógica do nosso Direito Ultramarino.
Há muitos modos de comemorar o facto ou apenas de o referir. No primeiro caso com alegria, no segundo com nostalgia. Há quem chore ainda perda da bandeira, como há quem chore a perda da carteira. Há quem ria por inconsciência alarve ou sorria por já nem querer saber.
Para o sub-consciente colectivo, amálgama irracional onde se forma a ideia de Pátria e se deforma, através do Estado, a de Nação, com o fim de Macau Portugal reduziu-se ao ponto de partida. Fechou-se o ciclo do Império. Passámos a ser os portugueses enjoados em terra que nunca iriam à Índia, mais os portugueses náufragos desanimados que de lá voltaram.
Claro que a minha Pátria é, como disse Pessoa, a língua portuguesa e o que ela simboliza. Gastaram-se milhões em Macau para que ficasse essa língua de Camões mas ela só resiste por imposição do Estado e por ainda haver ali portugueses na Administração e na vida empresarial. Em todas as outras colónias o português ficou naturalmente, fruto do amor e da mestiçagem, ali, na zona do Sol Nascente, só porque politica e legislativamente convém. Não é uma língua franca mas uma língua fraca. Ai de quem não souber ao menos inglês.
Sonhou-se que Macau seria, enfim, um caso de "descolonização exemplar", livre do opróbio do abandono, mas a sombra suja das negociatas a alto nível e da pilhagem à "árvore das patacas" criou uma macha que levará tempo a diluir-se como a água do Lilau, a que impede o esquecimento. Tempos houve em que ir para a Cidade do Santo Nome de Deus era sacrifício militar ou exílio de amores. Macau foi laboratório onde se gerou a moral rapinante que hoje sobrevooa Portugal.
Há, porém, um Macau de que pouco se fala, dos abnegados que lutaram na guarita do seu posto ou na enxerga do seu recolhimento, os que ali deixaram o espólio do seu amor àquela cultura e àquela gente. O Macau dos desterrados da sorte e dos opiados da má fortuna. Aqueles para quem a Fazenda foi madrasta e para os quais o Palácio foi indiferente. Esse Macau que gerou o macaense, língua de "papaeação", esse Macau que foi o nosso modo de ser colonial. O Macau missionário mesmo sem missas.
Foi há onze anos. Houve quem trouxesse contentores carregados de valores, houve quem se contentasse com o que a memória guarda.
Comemoro hoje Macau. Tenho comigo a "Estátua de Sal" de Maria Ondina Braga que ali viveu, como professora, em reclusão de alma, o coração em dor. «Assomaram-me as lágrimas a primeira vez que vi a "cidade dos barcos"», escreve. A cidade dos barcos é a cidade flutuante, a dos miseráveis, para quem cada pequena embarcação é casa e loja e caixão. A cidade dos que se amarram mais aos filhos ao madeirame flutuante quando toca a tufão e com ele o grito pavoroso de morte. Um pouco adiante dessa tragédia humana que bóia e assim sobrevive, o Casino, as jóias e as antiguidades, o ar condicionado e tudo quanto é luxo tecnológico e suas luzes meretrizes. Há onze anos estavam e ainda estão. É o Macau indiferente, para quem nenhum Império foi Lei nenhuma Senhoria abrigo. Devolvemos à China a galinha dos ovos de ouro. Depois de os ingleses terem devolvido Hong-Kong. Os diplomatas rejubilam com essa mísera vitória. Para a China eterna nada conta. A unificação da Mãe Pátria tem um nome e não está longe. Chama-se Taiwan. Um destes ouvir-se-à falar. Acreditem. É só Dragão acordar, vivificado.

19.12.10

Quando a Alemanha se fartar...

A Alemanha começa a fartar-se dos caloteiros que financia e daqueles que o Deutsche Bank julgava serem bons devedores. Berlim Recriou a velha Europa e está a ver-se afundar com ela. Por causa das dívidas que o Tratado de Versalhes a obrigou a pagar inventou o Adolph Hitler. Um destes dias os Jünkers da Prússia arrancam para Ocidente. De novo. Um novo homem levantar-se-à, messiânico e enlouquecido, saído da multidão..

13.12.10

Neo-realismo

Era domingo e chovia. Mas fomos visitar o Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira. Para mim uma vez mais, mas sempre uma primeira vez. Rever o que foi a luta cívica e a sua expressão na arte. Capas de livros que são marcos desse combate. Filmes, músicas, pintura, tapeçaria. A batalha pelo conteúdo, pelo significado, a batalha pela forma, pelo significante. E lembro-me que ainda apanhei os estilhaços dessa polémica:os que achavam que a Arte não podia ser panfleto, evitando ser ideologia para poder ser política por outros meios. Ali estavam tantos, mesmo um que veio, cordeiro arregimentado, da Mocidade Portuguesa, outro que se perdeu, cavalo em espanto, pelo labirinto do dadaísmo ou coisa como tal sentida.
Procurei-a, porque tinha de estar, a Seara Nova, ainda de capa singela, sem imagem nem cor, a Vértice, obrigatória, de Joaquim Namorado.
E ei-lo, ali estava, "António Vale", uma das mais lúcidas inteligências que o País produziu, carácter temperado a aço, a pôr ordem naquelas desordenadas hostes, em que também vogavam boémios improdutivos e reprógrafos burocratizados, a mostrar caminho, como se houvesse uma moral superior dos artistas que desse disciplina e clarim àquele pequeno pelotão. Foram poucos, mas tinham uma consciência social e uma cidadania a cumprir. O culto da personalidade era uma perversão. Hoje entrou na moda, o individualismo burguês a torná-lo exibição e espectáculo indecoroso.

1.12.10

Viva Portugal!

Não importa que seja hoje. Não interessa que se misture ou tenha misturado em tempos no mesmo dia o Camões, a Raça, as Comunidades. Quero lá saber que os nacionalistas e os internacionalistas se não entendam. Desinteresso-me de me preocupar se a perda da independência foi uma mera confusão de sangues reais ou de conveniências matrimoniais entre casas reinantes. Não é minha a polémica que consiste em saber se a nobreza portuguesa nos vendeu à Espanha ou foi o nobre povo quem nos livrou dos Filipes. São enigmas o saber porque é que não gostamos de ingleses e foram eles quem nos ajudou a desembaraçar dos invasores franceses que, apesar disso, marcaram a nossa cultura, durante séculos.
Há só duas coisas que importam quando uma pessoa se pergunta porque é que hoje é feriado: como é possivel que sejamos a mais velha Nação independente da Europa e estejamos em vias de perder o respeito por nós próprios, sujeitos a uma classe dirigente de tão baixo nível, a uma Pátria que a Fazenda amesquinhou, a um Povo que corre o risco de se tornar, pedintes, nos romenos do Ocidente, à porta das igrejas, agarrado ao sebastianismo da Fé?
Hoje, dia primeiro de Dezembro, não é só dia de Portugal, é dia de pensar como se salvará Portugal! A bem ou a mal...