16.8.10

A vida sobejante

Pela noite sente-se o seu pesado arrastar. Levam no seu bojo o resto, os sobejos e os remanescentes, o que já não se quer, o que nunca se quis. Há neles o que tantos desejariam, o que muitos nem sabem que existe. Em alguns fins de jantar é um festim de desperdícios. Muitos chegam cheirar bem. São a demonstração da generosidade involuntária, da oferta inútil. Às vezes homens e cães lutam pela posse das suas entranhas. Irmanados na necessidade, rosnam contentamento. Depois esvaziam-nos indiferentes homens nocturnos, madrugadores, profissionais da remoção. Uma vida sobejante termina na nitreira. No dia seguinte recomeça o ciclo da podridão.

4.8.10

O pato coxo

Foi só uma pancadinha seca. No instante um tiro. O «rac-rac-rac» e o andar à pato-coxo mostrou logo o que se tinha passado. Um segundo de distracção e claro uma cacetada da jante numa esquina do passeio e lá vai pneu. Nesta matéria, como nos sapatos, nunca basta um. Pelo menos dois. «Só que eles já andam um pedaço carecas». Como eu! Quatro. «Olhe o meu filho outro dia pediu-me uns ténis a 120 euros cada um», disse-me o homem do reboque. Pois o meu SAAB deve calçar-se na NIKE e ainda mais, pela certa.

1.8.10

E viva El Gordo!

Houve tempos em que uma pessoa acreditava porque estava cientificamente provado. Por exemplo que beber leite fazia bem à osteoporose. Agora decobriram que os adultos não devem beber leite e juntá-lo ao café gera enfartamento, inchaço no ventre e flatulência. Agora uma pessoa espreita as notícias e lê que «dormir mais e menos de sete horas por noite aumenta o risco de doença cardiovascular, a principal causa de morte nos Estados Unidos, revela um estudo americano hoje divulgado» e logo antes que «Os suplementos de cálcio podem aumentar o risco de sofrer um ataque cardíaco (infarto do miocárdio), afirma estudo publicado nesta quinta-feira no Jornal Médico Britânico, periódico da Associação Médica Britânica».
Houve tempos em que a filosofia era apenas uma impressão, a ciência a razão. Hoje uma pessoa conclui que a ciência é um interesse. É que foram as vacas loucas e vieram as pandemias de sei que outras alimárias. Concluiu-se que a norte do Mediterrâneo ia tudo desertificar e agora chove que os cães a bebem de pé.
Depois há a Rainha Vitória que bebia gin à farta e o Winston Chuchill que fumava charutos copiosos e de velhos morreram.
Houve tempos em que uma pessoa tinha fé no saber. Hoje limita-se a ter caridade pela ignorância.
No meio disto tudo uma notícia alegra: «A praia chama-se Saúde e foi um dos locais escolhidos para a campanha da Associação de Doentes Obesos e Ex-Obesos de Portugal (ADEXO) contra a Obesidade, uma doença que em Portugal afecta já 17 por cento da população, escreve a Lusa».
Emagrecer é divertido, dizem...