6.3.10

Feras à solta

Comprem o Correio da Manhã. Comprem mesmo aqueles que têm vergonha porque, julgando-se «intelectuais», acham que um «intelectual» só pode ler o Público. Comprem e leiam as primeiras páginas. Vejam o estendal de crimes violentos que ali se relatam, a ferocidade que eles indiciam, a insegurança, o perigo.
Em meia-dúzia de anos Portugal tornou-se de «país de brandos costumes» numa Nação de feras à solta.
Dizem por aí que é a polícia que não vigia, os juízes que não prendem, as cadeias que não emendam. Dizem que são os estrangeiros e os negros. Dizem muitas coisas. Mas o que não dizem é a verdade. A verdade é que há ódio a generalizar-se nos corações, há animalidade onde devia haver pessoas. Cada história que se lê é mais sinistra do que a anterior.
Dirão também que não é de agora. Lembro que aqui há uns anos, ao visitar um estabelecimento prisional, me perguntaram se eu quereria defender um certo violador que estava sem advogado. Respondi que não. Pensando que a recusa se deveria à natureza do crime, perguntaram então se eu não quereria defender antes um esquartejador.
Dirão isso do antes e do agora, mas não dirão que agora a ousadia é mais descarada, a impunidade mais ofensiva.
Leiam pois o Correio da Manhã e vejam como as estatísticas mentem. Não é uma questão de muitos ou de menos, é uma questão da bestialização em que se está a tornar Portugal.