30.5.09

A infâmia pública

Selecção, estigmatização, exemplaridade: eis os três Cavaleiros do Apocalipse do nosso pensamento social contemporâneo. Muitas pessoas pensam o que os jornais pensam, outras só pensam o que se pensa na televisão. Eis os efeitos.
Primeiro, as conversas do dia são sempre vocais e inaugurais, na lógica da abertura de telejornal: retumbantes, é o mundo em tchan!
Depois, os temas são sempre fulanizados: não há mais mundo que o dos suspeitos do costume, eternos símbolos do mal, arquétipos da malignidade, para benefício da simplificação do discurso e para descanso de todos os outros, poupados à ignomínia de existirem.
Finalmente, o raciocínio é sempre inconclusivo: isto vai mal, pior do que quando estava mal, donde está péssimo a ponto de não haver saída, de outro modo não estaria tão mal.
A moral pública é a do pelourinho: os amarrados à infâmia colectiva subrogam-se aos pecados dos que serão os primeiros a atirar a primeira pedra.
A hipocrisia é todos se sentirem juízes do que não conhecem, depois de terem sido acusadores pelo que ouviram dizer e testemunhas do que lhes parece que é.
O ridículo é ninguém notar a triste figura que faz. É por isso que se fala tanto. É por isso que alguns fazem de falar uma profissão milionária. Chamam-se comentadores.