7.2.08

Dia de silêncio

Há dias em que, mesmo quem tem muito onde escrever não tem nada para dizer. Espantam-me, por isso, os cronistas por obrigação, os opinadores de serviço, os avençados da coluna, e de entre todos, os da opinião geral e universal. Deve ser um tormento uma pessoa amanhecer com notícias e deitar-se com opiniões. A meio da noite devem ter pesadelos com o que se passa nas Américas onde ainda é dia ou na Ásia onde a noite se aproxima. Depois é a política externa e os escândalos internos, as resmas livros de que se tem de conhecer ao menos a capa e a badana. São os condenados às galés do ter ideias, o corvo da realidade a bicar-lhes o fígado da imaginação, amarrados, qual Sísifos modernos, ao rochedo do fazerem-se ouvir.