27.1.08

O regicídio: o processo e a fuga

Como se sabe o processo criminal do regicídio desapareceu. Ao que parece teriam sido feitas várias cópias. Nenhuma subsiste. No site do centenário dão-se pormenores sobre o que teria sido o destino de cada uma dessas cópias. A 30 de Janeiro será lançado na Sociedade Histórica da Independência de Portugal o livro «Dossier Regicídio – O Processo Desaparecido», um livro que se enuncia como tendo 348 páginas e 400 ilustrações e resultar de dois anos de investigação de uma equipa que tratou cerca de 1.500 documentos, alguns inéditos, 400 artigos e opúsculos, e 60 livros, de arquivos públicos e particulares.
Estive ontem a ler um estudo sobre o regicídio da autoria de Miguel Sanches de Baêna. Num certo momento da sua narrativa e falando das actas do julgamento escreve: «essas mesmas actas apareceram nas mãos de um particular, que permitiu, a título privado, a sua consulta». E antes cita Aquilino Ribeiro [citado nas Memórias de Raul Brandão, II] «existe uma acta do regicídio que me trouxeram aqui à biblioteca [Nacional] para eu ver». Baêna não diz quem é o particular que tem as actas e que o deixou lê-las. Aquilino não disse quem lhe levou o documento ou porquê. O livro de Baêna é prefaciado por António Reis, Grão-Mestre da Maçonaria.
Mais diz Baêna que a carabina Winchester utlizada por Buiça para matar o rei, com o n.º de série 2137, comprada na espingardaria de Heitor Ferreira, que ainda hoje existe, junto à estação de caminho de ferro, no Rossio «está actualmente na posse de um particular».
A espingardaria, diz, passou a chamar-se «Espingardaria A. Montês», de António Eduardo Montês, antigo empregado de Ferreira, o local da sua sede o actual Largo D. João da Câmara, então chamado Largo de Camões. Quanto ao particular dono da relíquia, fica na penumbra.
Eis pois.
A 1 de Fevereiro, umas centenas de metros do local da compra das armas, no Terreiro do Paço, dava-se a «sinfonia da morte», morrendo D. Carlos e o Príncipe Luis Filipe. A Justiça encarregar-se-ia, tansformando o crime em processo, de não descobrir os mandantes. Manuel dos Reis da Silva Buiça, professor, assassino do Rei e Alfredo Luís da Costa, comissionista, que matou o Príncipe, foram condenados sumariamente no local, mortos logo a tiro, sofrendo a morte que deram.
Já com os corpos no Arsenal, compareceu o Ministério todo, excepto o Ministro da Fazenda Martins de Carvalho. Escreveu Dom Manuel II, sucessor no trono, no seu diário íntimo «isso não poderei nunca esquecer é que fazendo parte do Ministério do meu querido Pai quando foi assassinado não foi ao Arsenal! Diz-se (não o quero afirmar) que fugiu para as águas-furtadas do Ministério da Fazenda e ali fechou a porta à chave! Seja como for agora seis meses que Meu Pai e Meu Irmão de chorada memória foram assassinados e nunca mais aqui pôs os pés!».
É a lei do eterno fugir, uns a não verem outros a não saberem, todos a não serem. Viva Portugal.