25.11.07

O músculo cardíaco

Uma zanga pessoal entre Vasco Pulido Valente e Miguel Sousa Tavares deu azo a uma crítica sulfúrica feita por aquele ao último livro deste. Um amigo meu que leu o livro diz que há nele mais outras imprecisões históricas, geográficas e de referência do que as que cita a valente crítica, citando-me algumas, desde a descrição de locais, à data em que surgiu uma certa marca de charuto fumado por uma das personagens.
De tudo isto, retiro uma pergunta: não tivesse havido a zanga, haveria a crítica?
Ou, talvez numa variante mais geral: quantos livros, imprecisos, mal escritos, insuportáveis de mediocridade, não andam por aí impunes, porque o crítico se não zangou com o autor?
Ou, agora num diferente e provocador modo de dizer: quanta crítica amável e complacente não coexiste com o inaceitável escrito e o mal amanhado estilo, por não haver zanga mas amizade, ódio mas amor?
Nos tempos da «Crónica Feminina», revistinha barata para corações pobres mas palpitantes, havia o «consultório sentimental». É isso que dita os tiques de alguma da nossa cultura e do nosso modo de ser crítico. O pensarmos também com o músculo cardíaco.
No meu caso assumo-o: gosto de ler o Vasco Pulido Valente, apesar de ele me irritar, nunca leio o Miguel Sousa Tavares, precisamente pelo facto de ele me irritar.
Eu sei que é um sentimento irritante este meu, mas só uma coisa me salva: nunca me zanguei com nenhum dos dois, pois não os conheço pessoalmente, a um só pela prosa, aos dois pela pose. E chega.

8.11.07

E viva o maxismo!

«Se o trabalho dá saúde e faz crescer os dentes, rapazes viva o descanso e que trabalhem os doentes». Acordei com esta, pelas cinco e tal da manhã. É do Max, não do Marx que foi causa de grandes desilusões amargas a muitos da minha geração, mas sim do Max, o risonho madeirense autor daquele notável conceito feito canção que dá pelo nome de «A Mula da Cooperativa». Tal e qual. A mula na cooperativa, a que deu dois coices no telhado, «ai és tão linda».

3.11.07

Militância diária

«O Partido não encerra para férias, está no combate diário contra estas políticas, no esclarecimento e na mobilização das populações em defesa dos serviços públicos de proximidade e com qualidade, contra as políticas caritativas». Só podia ser o PCP, na sua actividade militante. Lê-se em O Militante, o número dedicado à Revolução de Outubro, os dez dias que abalaram o mundo, num artigo escrito no Verão, a propósito da 31ª Festa do Avante.