4.8.07

A Feira do betão

O ano passado, pelo Verão, vim à Feira do Livro de Vilamoura falar sobre um livro que tinha publicado, a biografia de uma russa, agente dupla, chamada Nathalie Sergueiew. A noite estava quente, tudo decorreu em animada conversa, numa tenda bem decorada e com uma assistência empenhada. Depois, dei uma volta pelos pavilhões onde havia livros que eu não conhecia, ao lado dos clássicos «monos» que os editores tentavam escoar. Lembro-me que saldavam ao preço da chuva a obra do Jorge Luís Borges, em português, que me recusei a comprar, porque queria adquiri-la na língua original, como venho a fazer, aos poucos. A noite rematou com uma estadia, paga pela organização, num quarto de Hotel contíguo, um hotel charmoso e com um toque de luxo.
Por uma noite imaginei-me um escritor de sucesso com público certo e dormida garantida.
Lamentei então apenas que a Feira estivesse num sítio esconso, mas mesmo assim os veraneantes que se passeavam e mostravam no vai-vém nocturno pelo paredão da Marina ainda davam lá um pulo.
Dissseram-me os habitantes vilamourenses que a dita Feira já havia sido nos jardins do Casino e por isso mais acessível e portanto mais concorrida. Mas estava bem.
Ontem à noite, lembrei-me da Feira, fui lá, mas para cair fulminado pela surpresa. Tudo se resumia agora a uma tenda, com livros a maioria fracos que meia dúzia de editores ali haviam conseguido colocar, às pressas, através de dois ou três distribuidores.
Explicação: a urbanização que apoiava a Feira do Livro havia sido vendida aos espanhóis e estes «sabe, estão mais interessadas na área imobiliária». Lá voltei para casa, macambúzio, com um Agostinho da Silva debaixo do braço, em que um um dos títulos de capítulo se chama «Tudo mudou e o diabo deste país não muda».