31.3.06

Um espião português descoberto!

Actualizei o «blog» chamado «O Mundo das Sombras» com informações sobre o agente secreto português «Tomé», de seu nome Manoel Mesquita dos Santos. Infiltrado pelos alemães em Moçambique, em 1942 foi capturado, interrogado no Campo 020 e condenado a prisão, na qual permaneceu até ao fim da Guerra. Tivesse eu tempo para mais...

30.3.06

Em caso de terramotos!

Há na Embaixada do Canadá alguém com uma refinada inteligência diplomática: para se justificarem quanto ao facto de andarem a fazer um recenseamento dos canadianos [ou será canadenses que se diz?] que por aí andam, justificam-se que é só para o caso de terem de os prevenir, no caso de um terramoto. Perante isto e o que isto pode significar de espalhar a confusão e o terror junto da população de um país estrangeiro, espera-se o comentário de Freitas do Amaral. Acho que, no mínimo, seria justo convocá-los para aquilo que se chamam as Necessidades, a sede do MNE, quero eu dizer.

29.3.06

Muito exemplo e poucos exemplares

Visto os exemplares que se vendem, a glória de vir no jornal é de uma menoridade comovente. 48 mil compram e nem todos lêem o jornal «Público», 33 mil o «Diário de Notícias». O falecido Nunes, por exemplo, morre sem que a sua necrologia paga seja vista por muitos dos que no seu próprio bairro compraram a imprensa que a editou. O político da grande entrevista, a associação em crise de causas, a menina Ifigénia que foi assaltada no metro, todos, sem saberem coitados, falam para o boneco. São só exemplos, mas de casos exemplares. O José, da Grande Loja [a do queijo], esse diz a coisa se explica por uma «descredibilização generalizada», forma de dizer que as pessoas não lêem pois não acreditam. Por mim talvez nem seja isso. Vejam os jornais desportivos: as pessoas só acreditam no gooooolo que viram, mas vejam-nos ávidos a lerem no dia seguinte, linha a linha, o golo contado e recontado mesmo pelas mil maneiras que há de o transformar em frango. Eu, permitam-me que arrisque uma opinião, acho que as pessoas não lêem só por uma razão: preferem ver na TV. Ali há uma vantagem, a notícia passa mais depressa e vai-se embora num instante. Além disso, pode-se ir lavando a loiça, gritar com os miúdos ou cortar as unhas dos pés.

Fizeram «fufú» ao Alcaraz!

Há um site na Net que permite visualizar as primeiras páginas dos jornais. Tentei Portugal e saíu-me em Lisboa «O Público» e quanto ao Porto «O Jornal de Notícias», de Madrid veio-me o «El Mundo».Mas o mais interessante é o jornal «Primera Hora» que se publica em Guaynabo, Puerto Rico, e que titula, em manchete, a garrafais de primeira página, que fizeram um «fufú» a Alcaraz. Lendo com mais atenção chega-se à conclusão que o Alcaraz é o Secretário do Governo para os Transportes, que foi vítima de bruxaria, pois puseram-lhe à porta uma cabeça de leitão «com viandas». Ilustra a notícia uma foto da cabeça, a do Acaraz claro, a alegada vítima do dito «fufú». Perante esta notícia e o que ela simboliza de tantas coisas cruciais que os jornais relatam e uma pessoa não sabe, desisto! Vou passar a ler o «Borda d' Água»! Acho que ainda só há a edição em papel. Ajuda o hortelão e anuncia os mercados locais. De quando em vez traz uma inocente anedota, daquelas que fazem rir.

26.3.06

Papás ao ataque, cesarianas à defesa

A propósito de uma notícia que intitula «Mais de 10 mil cesarianas desnecessárias em 2004», o Diário de Notícias cita Luís Mendes da Graça, presidente do Colégio da Especialidade de Ginecologia e Obstetrícia da Ordem dos Médicos a dizer o seguinte: «em primeiro lugar, explica o especialista, o aumento do número de cesarianas em Portugal ficar-se-á a dever ao facto de "haver cada vez mais processos em tribunal de mães descontentes com o parto". O acto cirúrgico inscreve-se assim numa "estratégia defensiva dos obstetras, que é legítima", considera o responsável da Ordem dos Médicos». Ora aí está. Imagina-se no subconciente dos médicos parteiros a cena quotidiana: cada mamã que lhes entra pela frente, as contracções a aumentarem de ritmo, a bolsa das águas em vias de rasgar, a respiração ofegante e um ranger de dentes entre a dor e o medo, é para eles, a visão de um processo judicial à vista. Não é uma parturiente que aparece, encapsulada numa higiénica bata branca, é um causídico que lhes surge, envolto numa sinistra toga negra, não é a beleza de uma vida a nascer é a fealdade de um processo a instaurar-se. Na sala de espera, fumando nervoso, o paizinho sonha com o valor da causa e arrola testemunhas. Lá dentro, ao gabinete de enfermagem sucede o gabinete jurídico, às compressas e aos fórceps, o Código Civil mais a Colectânea de Jurisprudência. Defensivamente, por isso, não vá saltar de lá mais uma acção em tribunal, vai de cesariana. Quando o nângero solta o primeiro vagido, o clínico sente-se notificado pelo meirinho. Ao tomar-lhe o peso e as medidas, ainda o nascido babado da placenta, já o médico calcula quanto aquilo vale em termos de indemnização. Ao lavar as mãos, esgotado de um dia de trabalho, a equipe médica em vias de ser rendida, já pediu uma chamada para a companhia de seguros, pois coitaditos deles, cada dia de trabalhos de parto custa-lhes um dinheirão. Entretanto na casa em frente, em cada palheiro e em cada barraca, em cada condomínio de luxo, todas as noites e a todas as horas, casais legítimos, unidos de facto e parzinhos de ocasião fornicam à doida, fabricando mais processos, mais acções, mais indemnizações. Nove meses depois lá entram mais uns tantos em tribunal! Pobre Ministério da Saúde, desgraçado Ministério da Justiça. Leio o DN, é domingo de manhã, lá fora cantam os passarinhos, e imagino, angustiado como cidadão, preocupado como contribuinte, uma solução de emergência para isto tudo. Segunda feira, por decreto, o Governo ordena e a Imprensa Nacional publica a seguinte norma: artigo primeiro, é proibido f... para procriar, artigo segundo é reforçada a dotação do orçamento do ministério da Saúde na conta provisão para encargos suplementares com o montante necessário para fazer face a indemnizações com f... pendentes cujo efeito seja a gestação».

Os ladrões do tempo

Disseram-me ontem que durante a noite, por ordem do Governo, mudava a hora .E eu, nissso demonstrando a minha falta de inteligência, tenho sempre de fazer um grande esfoço para compreender. Todas as vezes é sempre o mesmo. Depois lá entendo o que vai ser com o «então amanhã quando forem sete já são oito». Mesmo assim, fica-me sempre uma íntima hesitação e a suspeita de que mais do que uma hora de sono, me roubaram uma hora de vida. E depois não querem que um tipo ande revoltado, se até o pouco tempo que nos resta o Governo nos rouba?

25.3.06

Só uma pontinha

José Sócrates disse que Marques Mendes tem «uma pontinha de ciúme» do Governo, que é o dele. A frase, creio eu, é duplamente significativa e duplamente equívoca. Dizer de um homem de pequena estatura que tem «pontinha», pode não ser amável, dizer de um outro que tem dele ciúme, pode não ser o mais apropriado.

24.3.06

Uma vida de tartaruga

Ao ter lido na imprensa que morreu, com 250 anos, a tartaruga mais velha do mundo, lembrei-me daquela do Oliveira Salazar que recusou a oferta de um tal animal, ainda muito pequenino, com base no argumento: «sabe, é que depois, uma pessoa afeiçoa-se aos bichos e custa-lhes quando eles morrem!». Passa-se o mesmo comigo! Talvez por amanhã fazer anos, fico com a ideia de que me está a custar morrer. É que, sabem, uma pessoa às vezes afeiçoa-se à vida e depois custa-lhe falecer!

A golpe de malhete!

A Grande Loja Nacional Portuguesa é uma das obediências maçónicas que agora existem, ao lado da Grande Loja Regular de Portugal, a Grande Loja Legal de Portugal, e do velhinho Grande Oriente Lusitano e outras que nem eu sei. Segundo diz a imprensa que vejo esta madrugada, vai abrir em Congresso «para desmistificar a Ordem e transmitir os seus valores de cidadania». Pois bem. Se estamos mesmo numa de «desmistificar», talvez não seja inoportuno inscrever na agenda um tema: segundo a clássica definição, emanada das Constituições de Anderson, de 1723, a Maçonaria é uma sociedade iniciática de homens «livres e de bons costumes». Ora aí está um belo momento, para inventariando todos os obreiros que da pedreiragem se reclamam, definir o que sejam os ditos «bons costumes». Talvez se desmitificasse, enfim, muita coisa! Muitas coisa mesmo!

23.3.06

Portugueses refugiados!

Portugueses distintos, eméritos, notáveis, portugueses emigrados. Portugueses que foram e são alguém. fora de Portugal, estão aqui. Repito o que li: nós não somos os descendentes dos que foram à Índia, mas sim dos que cá ficaram.

Orgulho de pai

Com uma diversificada actividade na blogo-esfera e outra menos variada em outras esferas, é só para lembrar que actualizei «O Mundo das Sombras» com um texto que nem sei como consegui escrever e que a gentileza da revista «Mea Libra», que acaba se ser divulgada na sua última edição, permitiu viesse à luz do dia. Talvez quem isto leia pense que é vaidade minha vir aqui dizê-lo. Confesso-o: é-o de facto. Um pai orgulha-se dos seus filhos, ainda que sejam de um mundo em papel. Ah! O texto é sobre o escritor Graham Greene, a sua vida secreta, a sua ligação aos serviços secretos. Talvez um dia dê um livro, quem sabe!

Notícias, frescas e molhadas

O conceito quotidiano de «notícias» é equivalente àquilo que se sabe ou, melhor dizendo, àquilo que a uns consta, ou melhor ainda, àquilo que dizem constar, ou para se ser mais exacto, àquilo em que se repara que eles disseram que lhes constava. Claro que, no meio disto tudo, há aquilo que sucedeu. Mas no fragor deste torvelinho, essa realidade inatingível é aquilo que menos interessa. Hoje, por exemplo, quem me visse a correr, diria que a notícia era eu andar a fugir da própria sombra. A única diferença entre isso e o real é só o não estar sol mas uma carga de água, e o ter-me esquecido do guarda-chuva.Por isso, ante tal «notícia», um lauto comentador, daqueles que pomposamente se intitulam de «opinion makers», perguntar-se-ia especulativa e doutamente «o que faz correr Barreiros?». O magro repórter, dos que aguentam horas a fio por um momento da vida que alegre os editores, diria, sem eco algum na redacção: «o estar alagado até aos ossos», verdade que estragava logo o interesse do assunto.

22.3.06

Cobranças duvidosa

Acordo pela manhã e leio: «o total de crédito bancário com cobrança duvidosa a particulares no final de Janeiro ascende a 2,08 mil milhões de euros, o máximo de pelo menos cinco anos». Mas a notícia continua: «A finalidade «habitação» leva cerca de 80% do total emprestado». Eis os modernos servos da gleba, amarrrados à grilheta do imóvel, serventuários do imobiliário, suportando a corveia bancária. Ei-los, jovens casais adquirindo o que sonham ser a casa sua, o lar do seu parceiro, o ninho dos seus filhos, ei-los solitários convictos, conformados divorciados, resignados viúvos, ei-los todos, hipotecados ao último refúgio, o covil do remanescente que a vida lhes dá. A vinte e cinco, a trinta anos de servidão adscrita, pelo juro anatocista escravizados, ei-los inscritos na rubrica da cobrança duvidosa, um número, um momento das estatísticas, uma vergonha de vida e um escândalo de sociedade. Eis o mundo em que nos cabe viver, o da usura e do calote.

21.3.06

Egoísmo partidário

Li esta manhã que o antropólogo Miguel Vale de Almeida, um dos rostos mais conhecidos do Bloco de Esquerda, abandonou a vida partidária, numa atitude, segundo o próprio, quase «egoísta». Todos os dias nos surpreendemos. Eu estava convencido que uma pessoa hoje se inscrevia num partido precisamente por uma razão egoísta, quando afinal também por causa disso é que de um partido se sai.

20.3.06

Viver só do ordenado...

Quando uma presidente de Câmara garante em «tribunal viver apenas do ordenado de autarca e de uma pensão, sustentando assim não ter meios para pagar a multa de 12.500 euros a que fora condenada por difamação», pode não estar a difamar todos os outros que, vivendo na aparência apenas do ordenado de autarca, fazem a vida que se lhes conhece: é que, nolens volens, pode estar mesmo a querer a dizer a verdade, toda a verdade, aquela que muitos fingem não querer ver.

19.3.06

Uma grande lata

Porque é que alguém que pretende passar por sério, honesto e exemplar convida, nomeia ou se rodeia de alguém cuja fortuna rápida nem o próprio consegue explicar, e de quem se murmura o pior, da honorabilidade à respeitabilidade? Porque é que eu, ridículo nesta pergunta e ingénuo no que ela supõe, ainda perco tempo com isto? Com o que há de importante na vida, basta-me o consolo de não os convidar para minha casa, onde, aliás, quase ninguém entra. Não é que me fanassem o faqueiro de prata, que não tenho, é porque poderiam tentar vender-me um, em lata, como se de prata fora. Vendê-lo, depois de o terem gamado, não duvido.

17.3.06

Conselho de Estado: o ponto final

Devorado pelo trabalho, soube apenas hoje os nomes dos novos membros do Conselho de Estado. Fiquei totalmente esclarecido, se dúvidas tivesse, se ilusões me restassem. Não é nada que eu já não pressentisse, acreditava é que não fosse possível ir-se a tal ponto. E por falar em ponto, para mim, é mesmo ponto final.

O prenúncio

Capital do chique burguês, a desordem nas ruas em Paris prenuncia sempre o fim de uma estação política. Claro que mal governada agora por políticos de segunda ordem, povoada cada vez mais por emigrantes de países de terceira classe, à mercê dos párias e dos desesperados, a França treme. Os estudantes estão na rua e com eles o rastilho. A polícia sabe que estão todos em cima de um barril de pólvora. Os seus filhos e os filhos dos seus patrões misturam-se, raivosos e incendiários.

14.3.06

Privatização, oh! Diabo...

Assumindo uma perspectiva teológica e não marxista, o dirigente dos comunistas portugueses disse que «a 'diabolização' da administração pública a que temos vindo a assistir, responsabilizando-a por tudo o que de mal existe em Portugal", visa "criar no País um clima propício à liberalização" de serviços, designadamente, de educação e de saúde, e ao "corte de direitos e regalias dos seus trabalhadores"». Penso que Jerónimo de Sousa está inspirado no último livro de José Saramago «As intermetitências da morte» quando ironiza que no dia em que as pessoas deixam de morrer a Igreja perde a sua razão de ser. No caso do prémio Nobel, a ideia é que por causa do medo do Inferno, os crentes professam uma religião, na ânsia do céu. No caso de José Sócrates, a ideia é que, com medo dos diabos dos funcionários, os contribuintes preferem os profetas da privatização. Entre uma opção e outra, venha o Diabo e escolha!

12.3.06

A tasca dos doutores

«Eu sou o único comentador isento em Portugal». Quem o dissse foi o Miguel Sousa Tavares que tem, de herança paterna, aquela virtude da modéstia e uma total ausência de auto-convencimento. Tal como o Vasco Pulido Valente, é dos que não estão irremediavelmente convictos de terem a verdade na barriga. Tal como os da sua laia, têem uma multidão de espectadores e ouvintes. Nada como um povo de labregos para se embasbacar perante os doutores. Em cada tasca há sempre um, à sua escala: escorropichando copinhos, botam faladura!

11.3.06

A ave cega e nocturna

Uma das vantagens que tenho em ter sempre gente a censurar-me pelo que não faço é viver na angústia de ter sempre dívidas por cumprir. Transformei-me a meus olhos no pagador de promessas. Culpado do pecado da omissão universal, tento redimir-me, desta feita actualizando blogs. Claro que vão bramar comigo por não escrever livros, criticar-me por não ser mais advogado, perguntar-me quando é que saio do ensimesmamento e dou enfim mais tempo aos outros. Mas é assim. Criei «O Mundo das Sombras» e, tal como o pássaro nocturno, é nele que sei voar.

iPod papal

A Rádio Vaticano ofereceu ao Papa um iPod, presenteando-o porque amador de música. Diz-se que contém música sacra, alguma clássica e gravações de programas da estação. A rádio vaticana é dirigida, desde a sua fundação em 1931 pelos Jesuítas. No dia 12 de Fevereiro desse ano, o Papa Pio XI proferiu a primeira mensagem radiofónica papal dirigida ao Mundo: «Ouvi, ó céus, ouvi o que vou dizer; escuta, ó terra; ouvi, povos todos que habitais o globo; escutai, ilhas do mar, povos longínquos... Glória a Deus no mais alto dos céus e paz aos homens de boa vontade». Li isto e lembrei-me da minha infância. Hoje, de facto, tudo mudou. Nos livros italianos de Giovanni Guareschi, que no colégio de padres onde estudei, me deram a ler, Don Camilo, o cura integrista e caceteiro de coração de pomba, que no cinema foi representado por Fernandel, em luta pertinaz com o líder comunista rival, Peppone, falava com o Cristo cruxificado e este respondia-lhe. Um dos temas do diálogo era com Don Camilo escondendo atrás da sotaina um valente cajado, com o qual queria tratar de umas pendências com o agente local das forças de Moscovo. Hoje tudo mudou, a Igreja e o Altíssimo estão quase em chat pela Internet, a Rússia dos pecadores está convertida.

10.3.06

Os cumprimentos de Soares

Mário Soares não cumprimentou Cavaco quando da sua posse em Belém. Muitos ficaram surpreendidos. Se é verdade o que eu julgo saber, poucos sabem quanto isso traduz um problema psicológico ainda por resolver. Quando tomou posse pela primeira vez como Presidente da República, Mário Soares terá passado pela dura prova de o próprio filho João não ter querido comparecer naquele acto a felicitá-lo. Disserem-me que Mário Soares, já empossado, teve de ir a casa do filho, dar-lhe uma lição, cumprimentando-o ele. Ser humilhado no dia da glória é coisa que ele, por isso, não ignora o que seja. O que precisava é que Cavaco fosse a Nafarros, cumprimentá-lo, como se a um filho que se portou mal. Se não fosse por emenda, fosse ao menos como correctivo.

9.3.06

A posse de Cavaco: os cavalos também se abatem

Não aplaudir o discurso de quem quer que seja é um direito; patear é uma faculdade, estar calado a ouvir, uma obrigação. Agora o primeiro discurso de um Presidente da República, logo no dia da sua posse, tem a importância de ser mais do que um acto, trata-se, no cerimonial da Pátria, de um símbolo. Esse é o dia em que, por um momento, o país e algum estrangeiro têem os olhos postos em nós. O PCP, o BE e os PEV's hoje não aplaudiram quando o Presidente falou e ficaram ostensivamente sentados ante tal solenidade. Não é uma atitude política, é uma grosseria. Ainda sou daquele tempo em que, quando entrava o Chefe de Estado, todos se punham de pé. Hoje tudo mudou. Ao ler isto, lembrei-me daquela história do imperador romano, a cavalo, em frente do qual todos os cavaleiros deveriam desmontar, pelo respeito que lhe era devido. Todos o fizeram, excepto um, o seu pai, arrogando-se por o ser. Nessa história, sabe-se como tudo terminou: imperturbável na autoridade, sereno na majestade, o imperador mandou que a guarda o atirasse, aquele que lhe deu o ser, do cavalo a baixo, estatelando-o no chão. Fosse isso hoje possível, tivessem as alimárias hoje cavaleiro!!

«Morgadinha dos Canibais»

Segundo se lê na imprensa, os «piropos» não vão entrar na tipificação do crime de «importunação sexual» no novo Código Penal: o soez «comia-te todinha», pois que impune, fica a demonstrar a descriminalização do canibalismo: uma ideia civilizada, pois claro!

8.3.06

O menino de sua mãe

Estava na farmácia, bem visível, pedagogicamente presente, comercialmente eficaz, o anúncio à pílula do dia seguinte. A imagem, tema central do cartaz, caricaturada, vista de longe, parecia a do óbvio: um casal, abraçado, ela tendo na mão uma tablete de pastilhas salvadoras de um descuido. Só que eu vejo cada vez pior, o computador e as leituras desenfreadas e mais as compulsivas ajudam a secar-me os olhos, as noites mal dormidas a mirrá-los. Aproximei-me, pois, para descobrir com espanto o que ali estava. Ele era de facto um jovem rapaz, desenhado como se lhe tivessem despontado agora as borbulhas irritantes do nascer da barba e com ela os desejos e os medos, o tipo dos que se metem em sarilhos só por não tomarem precauções, armados em homens quando ainda são uns miúdos. Só que ela, ela, meu Deus!. Desenhada como estava, parecia, não a sua jovem amiga de um momento irreflectido de prazer sexual que deu em fecundação, mas sim, a própria mãmã do rapazinho. Saí da farmácia atordoado, as ideias confusas, a cabeça sem entender nada da mensagem do cartaz. Esta ideia da mãezinha protectora, de pílula na mão, a ensinar ainda ao menino, pertinazmente agarrado às saias domésticas, o bêábá da sexualidade e dos seus riscos e modo de os enfrentar não me entra na cabeça. E, no entanto, ele ali estava, o menino da mamã, avisado para os malefícios do mau uso da pilinha.

7.3.06

O «espectráculo!»

Insultar directamente, pessoalmente, achincalhar mesmo, denegrir, ridicularizar. Dizer que a pessoa completou o 12º ano com dificuldade, que promete há vinte anos um livro que não escreve. Para a troca, ser referido gozadamente, escarnecidamente, chocarreiramente pelas peúgas brancas que usou ou por ter tido, na hora do sexo, uma falha de erecção. É isto a classe culta portuguesa, os finos no seu melhor, feitos escritores, a dar tema para o gáudio dos que julgam eles ser a ralé. Lembrei-me disto e de uma frase do Camilo a propósito do Conde da Atouguia: «a propósito, amigo, há quanto tempo conservas de escabeche a inteligência?».

6.3.06

HP: finalmente a resolução fina!

Diz o Diário Digital, na sua edição de há momentos, que fui espreitar num intervalo, que «a nova máquina fotográfica da HP tem uma inovadora função adelgaçante». As revistas eróticas para homens vão entrar em crise. Elas que viviam da grande angular a meio corpo! Para as gordinhas, anafadinhas e reboludinhas é o fim dos seus tormentos: em vez de uma dieta a fazerem de grilo, é só o olha o passarinho!

A mala posta

Agora acabou-se! Outora eram as ansiosas namoradas espreitando por detrás das cortinas, antecipando a sua chegada, a tasca da aldeia onde se concentrava a vazada da sua mala, o cornetim tocado do alto da montanha, anunciando a sua presença e com ele notícias frescas. Depois com o código postal, o envelope normalizado, o DHL, o «express», o fax e o email, tudo isso mudou. Só que hoje estão todos em greve, os carteiros. Antigamente, quanta gente, para se aninhar na sua solidão, murmurava para com os seus botões o «homem pobre e feio, não tem carta no correio». Hoje, mesmo os ricos e os bonitos não têem!

5.3.06

Ó senhor agente, se faz favor!

O léxico político é um sem-fim de novidades e de novo-riquismos verbais. Jorge Sampaio, quase a deixar o Palácio de Belém, veio revelar-nos que, a partir do momento em que deixar de ser Presidente, passará a ser «um ser agente cívico, livre e independente». A frase dá para pensar. Será que, enquanto foi Presidente, não era livre? Não era independente? Ou, e é para aí que me inclino, não era agente, mas actor?

4.3.06

E não se poderá cimentá-los?

Uma pessoa acorda sábado de manhã, ainda meio aturdida de dormir, tenta actualizar-se com a imprensa e vê boquiaberto que ela diz que «as cimenteiras podem ajudar a combater os fogos». Imaginam-se logo as florestas todas revestidas a betão armado, transformadas em esplanadas com umas mesinhas de bar para a malta urbana tomar umas cervejolas, as criancinhas andarem de patins e os velhinhos partirem a ossada. Mas afinal a notícia é outra: As cimenteiras podem ajudar a combater os fogos e prestar «um serviço ambiental» se substituírem os combustíveis fósseis por resíduos, nomeadamente florestais. Já fico mais descansado e a poder voltar a dormir em sossego. É que se começo a pensar nas utilidades várias que as cimenteiras podem prestar à sociedade, ainda sonho em pesadelo que a nova reforma penal, inspirando-se na Mafia, se decide, em colaboração com a Cecil, a aplicar os sapatos de cimento como forma de combate eficaz à criminalidade organizada. Como diz a minha mãezinha, já se viram coisas piores darem melhor resultado.

3.3.06

O Culto do Oculto

Arrumando mais ainda os caixotes e as sacas dos remanescentes que fui apanhando pelos atalhos pelos quais me fui perdendo nesta vida, criei esta noite mais um blog, a que chamei «O Culto do Oculto», em homenagem ao que ali se trata. Uma ideia dos diabos...

A ficção e a ilusão

Anteontem escrevi aqui lembrando o Vergílio Ferreira, por ser o dia dos dez anos da sua morte. Hoje, casualmente descobri que o nome de um dos meus blogs, «o ser fictício», é, sem que eu o soubesse, um excerto de uma frase sua, publicado no livro «Pensar». A frase, no melhor estilo da sua escrita angustiada, é «o homem é um ser fictício em todo o seu ser. E é precisa a morte para ele enfim ser verdadeiro». Mas a antecedê-la vem este momento que é a melhor forma de mostrar quanta ficção e ilusionismo verbal existe na política: «os políticos que se dizem de esquerda, por ser o bom sítio de se ser político, estão sempre a afirmar que são de esquerda, não vá a gente esquecer-se ou julgar que mudaram de poiso. Mas dito isso, não é preciso ter de explicar de que sítio são os actos que a necessidade política os vai obrigando a praticar.»

Mim Tarzan!

Nesta noite de sexta em que me recuso a trabalhar, leio que José Ribeiro e Castro, que está líder do CDS/PP, acusou o primeiro-ministro de «querer ser o Tarzan da co-incineração». A frase é complicada, porque no reino da selva política abre o problema não de saber quem é a voluptuosa Jane, mas sim quem será a macaca Cheta. E, a propósito, sem cheta anda o país inteiro e farto sobretudo destas macacadas verbais!

Reanimando o Rei Carol

Desta feita foi o meu blog «O Mundo das Sombras» que sofreu trabalhos de reanimação. Saído do coma vegetativo em que se encontrava, voltando a respirar, o pobre deu sinal de si, a propósito do Rei Carol da Roménia e o acordo secreto que o trouxe a Portugal em 1941. Oxalá não me vá eu abaixo à força de tentar manter uma ninhada de blogs tão exigentes de atenção, e ter que ganhar a bucha pela maneira bruta como me acontece.

2.3.06

Os indígenas do país político

Esta ideia de os políticos terem um foro especial para os julgar anda a perseguir-me. Num outro sítio já me perguntei se isso teria a ver com a expectativa de macieza punitiva do tribunal que deles se incumbirá, segundo pretende o autor da novidade, um tribunal superior. Mas hoje veio-me à cabeça uma explicação que tem a ver com a natureza e característica dos seres em causa, os ditos políticos. Foi ao ler um velho alfarrábio do meu pai, velho solicitador encartado, o Regulamento do Foro Privativo dos Indígenas em Angola, aprovado em 1939 e revisto em 1943. Acho que vem lá tudo o que é preciso para se perceber o que está agora em causa. Havia um outro velho Regulamento Provincial de 1931 que considerava indígena «o indivíduo de raça negra, ou dela descendente, que pela sua instrução e costumes, se não distinga do comum da sua raça». Os outros, eram os assimilados, equiparados a europeus. Ora uma das sujeições que sobre os indígenas recaía era a de serem julgados pelos tribunais privativos para os indígenas. Era isso o que vinha no Regulamento do Foro Privativo. É uma ideia para o problema dos políticos, até porque as situações são parecidas. Passam os políticos a indígenas, e cria-se para eles um foro especial. Aplica os seus «usos e costumes». Aí é que o problema se complica. É que em matéria de costumes, nem todos são pacíficos. Uma só coisa havia no Códigos dos Indígenas que nos envergonha hoje a nós, os civilizados europeus: é que, segundo ele, o prazo da prisão preventiva gentílica era de vinte dias, prorrogável por mais vinte. No nosso Código de Proceso Penal pode ir a quatro anos e seis meses. Civilizadamente, claro está!

1.3.06

Areias movediças

Seguramente para ajudar o turismo, o Governo disse hoje, pela boca do ministro António Costa, que o Algarve é a região onde se tem «registado maiores intensidades sísmicas em Portugal continental» [sic]. Foi a propósito de um protocolo, no quadro da protecção civil, que por lá andaram a assinar. Para dar ainda mais tranquilidade a todos os algarvios e aos turistas, a Lusa acrescentou este trecho à notícia: «A região do Algarve, localizada sobre a placa euroasiática, é considerada uma zona de características particulares, pois ao longo dos últimos séculos foi afectada por sismos que trouxeram elevadas perdas humanas e materiais, como aconteceu em 1755, com um sismo de magnitude igual a 8,5 na escala de Richter, ou em 1969 com a magnitude de 7,5». Acho que, perante isto, o Turismo Algarvio já tem lema: «Venha ao Algarve! Passe umas férias trepidantes!»