7.11.05

A cinza do remorso

A ganância de uns pela mão de obra barata, o falso humanitarismo de outros que lhes franqueou a vinda aos milhares, atulhou as periferias urbanas dessa massa humana, hoje em fúria. São uns desenraizados. Vêmo-los a limpar o nosso lixo, a servirem às nossas mesas, a construirem as nossas casas. Chegam pela madrugada, em transportes colectivos, qual gado sonâmbulo. Graças a eles, temos o conforto que eles nunca sonharão alcançar. Se houver retretes para limpar, são eles que as limpam, quando há um acidente em trabalho, normalmente são eles que morrem. Desta feita resolveram chegar-nos fogo. Paris, a pingue burguesa, tremelica, a Europa assusta-se, hoje em labaredas que são o castigo da nossa culpa, amanhã em cinza do nosso remorso.