31.10.05

O enunciado geral

Há um casal de Procuradores, altas figuras do Ministério Público que estão com Mário Soares na sua campanha eleitoral. Dizem-me que não há nenhum obstáculo legal e eu acredito no que me dizem. Mas agora, estes dois concretos procuradores com este concreto candidato? Mais diria e melhor diria: um destes concretos procuradores? Seguramente há pessoas muito seguras da sua vontade e mais seguras ainda da falta de memória dos outros! O tempo o dirá de que estamos a falar. Aqui fica só o enunciado geral do problema.

Fora de jogo

Há um jornal desta manhã que diz que Soares dá tudo por tudo para que Cavaco venha a jogo. A história do político profissional seria um exemplo de um pretexto. A mim o que me parece é que Soares anda nervoso. Talvez não pelo possível mau resultado, talvez sim com medo da campanha eleitoral e do que nela possa surgir. Claro que os cavaquistas, com a vitória garantida, não precisam de desenterrar velhos esqueletos do armário. Só que nunca se sabe de onde é que eles irrompem, às vezes os ataques surgem mesmo fora de jogo.

30.10.05

Lá chegaremos, professor

O professor Marcelo é tão atento! O professor Rebelo tão venerando! O professor Sousa tão obrigado! Depois, é conforme calha. Esta noite o professor foi obrigado a ser venerando e menos atento. Mas atenção! Houve quem notasse a omissão! O que ainda falta perceber é o porquê. Mas lá chegaremos.

O culto da aparência

A ideia de continuar o imposto municipal automóvel mas acabar o sê-lo faz jus à divisa «antes sê-lo que parecê-lo». Neste caso o Governo assume-se mas não quer que pareça.

29.10.05

As misérias de Macau

Deixem-me falar de Macau, hoje que estou no Porto e encontrei, num alfarrabista chamado Chaminé da Mota, mais uma edição, belíssima, de um livro da Maria Ondina Braga. Deixem-me falar de Macau, que esse livro de Maria Ondina descreve num gotejar envolvente de fina literatura. Deixem-me falar aqui de Maria Ondina, pois é dela e de um seu livro o nome deste blog. Deixem-me falar desse Macau de uma professora de colégio a estafar-se pela noite dentro para compensar a vergonha insuficiente do ordenado. Deixem-me falar dos leprosos, dos clandestinos, dos esquálidos da estiva, os sonâmbulos do ópio, os viciados no jogo, os carregadores de rickshaw, bestas humanas, felizes quando pedalam. Deixem-me falar nessas misérias e só nesssas. Foi em cima de tudo isso, o indisfarçável isso, que o mais aconteceu.

Mentiras

Estou no Porto e vejo escrito numa parede que precisamos de mentiras novas. Ora eu já vi isto em Lisboa. Trata-se, pois de um desejo nacional. Viva Portugal!

Eanes

Ontem António Ramalho Eanes exprimiu o que pensa do discurso de Aníbal Cavaco Silva, dizendo que o fazia apesar de não ter falado com ele. Nós sabemos que o general é uma pessoa distante. Agora nota-se que é uma figura distanciada.

27.10.05

A greve e a paga

Uma das nobrezas dos trabalhadores grevistas é sofrerem na pele a cessação do trabalho, não recebendo os dias em que enfrentam o patronato. Eu só espero, antes de desistir de vez de acreditar no pouco em que ainda acredito, que os magistrados em greve não façam excepção. É que quando me apercebo de que acham que não têm de comunicar a quem de Direito os dias em que não trabalharam, por estarem em greve, sabendo e não ignorando que o efeito é no final do mês o ordenado vir por inteiro, já nem sei o que esperar. O problema não é a menoridade de comunicarem, o problema é a infâmia de receberam.

26.10.05

O dia do acto

Sobre a greve na Justiça está tudo dito, só faltava fazê-la. Aqueles que, à esquerda, coexistem mudos e compreensivos com greves de trabalhdores privilegiados, tentaram denunciar os privilégios dos grevistas. Aqueles que, à direita, coexistem com o envolvimentos de magistrados na política e com políticos, acharam que o estatuto institucional dos mesmos não lhes permite fazer greve. Discutiu-se a legalidade do acto, a justificação dos acto, os efeitos do acto. Faltava o acto! Com excepções de consciência, hoje é o dia do acto. Sendo advogado não tenho que comentar os outros. Se a greve é por causa do estado da Justiça, lamento é não poder fazer a minha greve. Com os tribunais fechados, enfim, a única greve que me resta é a greve por consequência. Estou nela.

25.10.05

Finalmente, uma atitude

O Ministro da Justiça tomou, finalmente, uma atitude de inteligência política: desapareceu.

24.10.05

Mário Soares e a internacional situacionista

Mário Alberto Nobre Lopes Soares veio proclamar que é e sempre foi contra todos os situacionismos. O argumento parece um truque de prestidigitação. Um incauto ouve e pensa logo no Soares do antigo regime, deportado em São Tomé, por ser «do contra». É esse o objectivo da frase, que os ouvintes esqueçam o outro-ele, o Soares que criou uma situação que é aliás uma forma de estar na vida e na política, o «soarismo». Trata-se daquele modo de ser que é a forma cómoda de se ser português: a bonomia da imagem que esconde o iracundo do carácter, a ligeireza do afecto que dissimula a superficialidade da preocupação. A ele todos lhe perdoam, mesmo os pouco que não lhe acham graça. Há só uma faceta deste dito que pode ser sintoma de um problema. Um Soares contra todos os situacionismos, pode ser um Soares contra o «soarismo». Se for assim, o homem está farto de todos os que o animaram para esta aventura funesta, a de ser candidato. Preparem-se pois! Mário Alberto Nobre Lopes Soares pode ainda, tal como no passado aos berros com o polícia, saltar à balaustrada e em desatino verbal contra os da sua própria campanha, berrar-lhes: desandem daqui!

O problema de Cluny

A Ordem de Cluny extinguiu-se em Portugal quando São Pedro de Rates passou a igreja paroquial. É este o fim das grandes causas, o tornarem-se precisamente paroquiais. Adalberão, bispo francês que viveu no século décimo, talvez tenha exposto a causa do problema: «a cidade de Deus, que se acredita única, está dividida em três ordens: uns rogam, outros combatem e outros trabalham».

As aves do paraíso

Quando amanhã chegarem às bancas os portugueses vão saber que morreu um papagaio em Inglaterra. A notícia merece honras de primeira página, porque é o sinal do medo ancestral do homem, no caso o medo medieval da peste negra. O nosso admirável mundo novo, armado até aos dentes com progresso da farmacopeia, o culto do corpo, as plásticas para manter as formas, as «spas» para cuidar do físico, está tudo por um fio. Esganados de pavor, fogem das vacas loucas, tropeçam nas galinhas engripadas. Qualquer dia vomitam uma baba verde, por causa da água que bebem e do ar que respiram!

22.10.05

Matai-vos uns as outros!

Voltei! E logo para me irritar! No dia em que o Ministério Público lança o que chama de uma «mega-operação» de busca eu vejo na imprensa que, por causa dela, andam na Procuradoria a pôr processos-crime uns aos outros e a dizê-o em comunicado, para que conste. Mais, dizem que a dita operação ainda não conduziu, entre os buscados, à constituição de arguidos. Bravo! O saldo é positivo: uma operação destas e os únicos arguidos por junto são os próprios investigadores, por causa do triste segredo de justiça! Ah! E uma bela fotografia no «Diário de Notícias», já me esquecia.

18.10.05

Mataram os pombos!

Os jornais publicaram que «Portugal está entre os 30 países menos corruptos do mundo». O resultado foi obtido com base num inquérito feito junto de «empresários e analistas», por uma organização internacional, que lhes perguntou sobre a percepção que tinham sobre o fenómeno. Ora das duas três: ou o fenómeno não existe, ou está camuflado, ou os inquiridos não são de cá. Se calhar sucedeu como aquele Presidente de Câmara que mandou matar os pombos da praça principal do seu município, porque, quando ele passava, lhe arrulhavam: corrupto, corrupto, corrupto!

17.10.05

Complexos

Os camionistas portugueses que não se integram na greve dos transportes em Espanha são tratados à pedrada e os pneus à naifada. A imprensa portuguesa regista o facto, sem piar grande comentário: não porque a violência não impressione, sim por vir da parte de trabalhadores grevistas. Aí os complexos de esquerda atam-lhe a língua. Mais: a mesma imprensa até regista que os nossos se acolhem à protecção da Guarda Civil. Imagine-se a meiguice: à protecção!

16.10.05

A Legião que passa!

Ainda estou para ver quando é que sai a lista que o Grande Oriente Lusitano entregou à Torre do Tombo e que parecendo ser da Legião Portuguesa, já nem se sabe se é de legionários, se de destinatários de publicações da Legião se de informadores da PIDE, como chegou a aventar-se. Também não interessa. A Legião, como se sabe, era para muitos milhares a barca do venha a nós, a mitra fardada dos que ansiavam o seu lugar ao sol. Em muitos dos seus aspectos, os partidos hoje são os seus sucedâneos. Por causa disso, o que interessa a lista? A Legião arrancou com um comício, no Campo Pequeno, em 28 de Agosto de 1936. Uma das suas figuras de proa chamava-se Humberto Delgado. Esse mesmo! Venham por isso, os outros!

Sócrates e o já lá vai

Foi José Sócrates quem o disse: «Já lá vai o tempo em que muitos países olhavam com desconfiança para os fluxos migratórios. É altura de olharmos também para eles como uma oportunidade para que essas migrações possam contribuir para o sucesso, quer dos países de origem, quer dos países que acolhem emigrantes». Foi em Salamanca. Acho que o entendi: despachamos os portugueses, emigrando-os, recebemos eslavos, imigrando-os. Com esta transfusão sanguínea, em meia dúzia de anos, se os PALOPS seguirem o exemplo, não só Portugal funciona, como se restabelece o Império Colonial Soviético. Niet?

15.10.05

Írrito e irritado

Jorge Branco Sampaio que se irrita e muito quando dizem que ele está irritado, irritou-se imenso quando, como acontece a muito advogado, soube pelos jornais o que decidem os tribunais. Desta feita foi o que ainda não decidiu o TC sobre o referendo ao aborto. Os mais inteligentes do PS anseiam que o referendo aborte e que o Presidente não emprenhe pelos ouvidos.

O fala-só

Visto de longe, notar-se que não está inscrito num partido, não pertence a um movimento, não se integra num grupo, não alinha com uma moda. Visto de mais perto, constatar-se que não há ninguém que, pelos interesses, o reconheça como seu, e o proteja, inexiste alguém que, pelas ideias, ache que tem as suas, e o defenda. Com uma tal pessoa nem vale a pena perder tempo. Diga ele o que disser, representa-se a si mesmo. É um pária. Por isso, quando muito, bom dia e adeus.

14.10.05

TAP: voamos até à próxima paragem

Há companhias aéras asiáticas que oferecem massagens a bordo, a nossa TAP oferece o acesso a um desfribilhador, para o caso de uma paragem cardíaca. Uma pessoa lê isto e hesita antes de entrar a bordo. A continuar com este marketing, qualquer dia oferecem seguros de vida aos clientes, ou funeral gratuito aos passageiros frequentes.

13.10.05

Sampaio

Esta de Jorge Sampaio falar com o seu homólogo venezuelano para acelerarem o julgamento de um caso que corre nos tribunais da Venezuela, faz perguntar que ideia têm ambos da proclamada independência do poder judicial. Esta de o porta-voz do MNE vir soprar para a primeira página do jornal que o encontro vai ter lugar, faz perguntar que ideia têem todos da discrição que coisas destas devem ter. Mas, enfim, anda tudo ao mesmo, a ver quem se mostra mais.

11.10.05

O falcoeiro

Deixem lá o sujeito ir de Falcon ao futebol! Assim como assim, o avião tinha de fazer horas de voo, ele sempre serviu de carga aérea. Ou não é isso que andam para aí a explicar, a lógica do «já agora, se não dou despesa...», mesmo a mostrar que Sócrates nem tem a certeza moral de ter motivo legítimo para ter usado o maldito do avião!

O Bloco dos conformistas

O Bloco ainda tentou criar algum «suspense» sobre quem seria o seu candidato presidencial. Durou umas poucas horas, percebeu-se logo que era Francisco Anacleto Louçã. Nesse dia, Fernando Rosas foi a correr dar um saltinho à candidatura de Soares. Agora, no dia 13, o fundador do PSR oficializa-se para um cargo para o qual não tem perfil nem esperança. É a lógica juvenil do nós somos contra tudo quanto está e contra tudo o que possa vir. Claro que ainda nem se sabia, nem se sabe ainda, quais eram ou quais serão os cidadãos que se candidatam à Presidência da República e, por isso, o Bloco, pequeno partido que é, poderia ter esperado para ver. Só que, macaqueando o PCP, nunca o fariam. Ser do contra tem destas e há um eleitorado que, vivendo uma vida de conformismo e acomodação, nestes espamos rebeldes, redime-se neles e acha bem.

Às portas de Belém

Quando li que Paulo Portas tinha desistido de avançar para Belém, dei comigo a pensar que Belém está de facto ao alcance de todos e de qualquer um. Qualquer dia já nem é notícia os que dizem que não querem.

9.10.05

Um voto em branco

Já houve tempo em que os suspeitos pela Justiça e condenados pelos jornais caíam do poder, mortos civicamente. Hoje esse ciclo terminou. Não é que os eleitores não liguem, o que acham é que mesmo uma acusação penal, em termos eleitorais, é mais um voto, um voto em branco, e nada mais. Daí que os votem, em triunfo!

Obrigação de domingo

Voltei ao Luiz Pacheco e nele o revolto-me por coisas de que tinha obrigação de só rir-me e pouco.

Paliativos

Não me apercebi que ontem foi o «Dia dos Cuidados Paliativos». É que nem sequer este Governo, que parece estar em funções para este género de acções, deu sinal de vida. Sócrates foi de surpresa a Sintra, quando viu pelos jornais que João Soares pode não perder. De surpresa também, e sem vergonha na cara, depois de tudo o que se passou, encheu-o de elogios. Paliativo por paliativo, dá para perguntar se não se poderia empaliá-lo.

8.10.05

Bandeiras

Vim à rua por um pouco e cruzei-me com algumas bandeiras de Angola, enfunadas ao vento. Longe de muita coisa, perguntei-me o que teria sucedido naquele lugar. Ao chegar a casa, percebi, enfim: era por causa do futebol. Tinha acontecido o mesmo aqui em Portugal. São os patriotas sobejantes, os que pensam na Pátria a pontapé.

7.10.05

Vilanagem

Durante muito tempo ninguém quis saber. Agora que o homem se candidatou e consta que, podendo perder, pode fazer perigar quem vai ganhar, são todos à unha a lembrar histórias fétidas do seu passado. Afinal tinham todos lido! Afinal, guardavam recortes de jornais! Afinal lembram-se! Afinal agora estão cheios de coragem! Agora já não se está objectivamente a fazer o jogo de, nem é politicamente incorrecto pensar que! Agora que, comodamente, tudo prescreveu, é fartar!

Ideias em Belém

O novo crime que o Presidente da República, como se legislador fora, veio dizer que quer, o de enriquecimento ilícito, é um daqueles em nome dos quais toda a gente pode ser acusada e alguém pode sair condenado. A riqueza sem causa conhecida passa a crime e o rico, para se livrar de ser criminoso, que demonstre onde enriqueceu! Se isto mete medo, nada disto tem importância. Importante é vêr como é que os amigos dos ricos de riqueza duvidosa, que com a política nasceram e a política sustentam, arranjam maneira de isto ser só uma ideia. Uma ideia que passou pela cabeça de alguém. Cá estamos para assistir.

6.10.05

Longe da baiúca

Há em frente a Santa Apolónia o que é suposto ser uma casa de pasto, chamada A Baiúca das Andorinhas. Há em Santa Apolónia um bar de gare, onde se vende dentro de pães uma massa esponjosa e esparrilhante, que dizem ser pasta de frango. Há entre a baiúca e a pasta, zombies vagueantes, suplicantes de pedintes. Há em Santa Apolónia propriamente dita, comboios, nomeadamente para muito longe.

Juízes no SIS

Eu não dos que semeiam o mesmo post em vários blogs, nem sou dos que acho definitivamente mal que isso se faça. Abro aqui, este propósito da nomeação de um juiz para o SIS, uma excepção ao que penso e ao que semeio, só por não saber se isto caberia melhor na Patologia Social, se aqui na Revolta das Palavras. E, assim, sempre pode alguém no SIS, abrir duas fichas.

A inversão e o estímulo

O problema já não é haver ou não entorses aos sacro-santos princípios que tínhamos por pilares do nosso sistema penal: a presunção de inocência, o direito ao silêncio, o segredo profissional, a inviolabilidade da vida privada. Face à falência da justiça criminal em combater certo crime grave com boas maneiras, todos se rendem à excepção. O mal, esse, está no modo como essas coisas se dizem. O Presidente da República é o Supremo Magistrado da Nação, não é Supremo Procurador da República: cabe-lhe, por isso, contenção na língua. Jorge Sampaio é advogado: cabe-lhe, por isso, ter tento no que diz. Que o advogado Sampaio fale em ónus da prova em processo penal, ainda vá, deriva de um modo antigo de colocar o problema, que vem dos tempos em que foi aluno de Cavaleiro de Ferreira. Agora que o Presidente da República venha, como se em linguagem de comício, e com uma latitude verbal em que parece que cabem lá tudo e todos, a falar na inversão do ónus da prova, quando a lei já o prevê, isso é que um Estado de Direito não suporta. Claro que alguns polícias ficam satisfeitos, nisso incluindo os poucos que acham que assim é mais fácil investigar sem trabalhar. Mas claro que há quem goze: o ministro da Justiça, por exemplo, ao comentar que a proposta não é original, mas é estimulante! E de estimulantes anda ele bem precisado, como sabemos todos muito bem.
P.S. Há quem diga que o Presidente, afinal, não queria falar em inversão penal, mas sim na inversão fiscal. Vêem como é, quando se é ambíguo no que se diz, à força de querer dizer?

O homem que receia o azo

Jorge Sampaio não foi à cerimónia comemorativa da implantação da República, diz ele, «para não dar azo a especulações», e por estarmos a quatro dias das eleições para as autárquicas. É caso para dizer, francamente, senhor Presidente! Se não é a consciência a pesar-lhe, nem sei já sequer o que seja! Mas pior: é que nem sequer se entende quem é que especularia o quê a propósito do quê. O que eu especulo é a que a ponto chegou a fraqueza política de um cargo que parece temer já a própria sombra. É caso para dizer, volta Machado dos Santos, concentração na Rotunda, que a República vai ter que ser reimplantada.

5.10.05

Nulla poena, nullum crimen!

Lês-se por aí que «Os agentes da PSP vão ignorar as infracções rodoviárias e não irão autuar os prevaricadores até ao final do ano». E eu, que estou farto do risco de ser multado por ter de andar a correr de Herodes para Pilatos, como se a fugir à polícia, já decidi! Faço greve às infracções. Greve, mesmo e de zelo! Está dado o pré-aviso.

4.10.05

Se há Deus, não fuma!

Diz a imprensa que «durante este século, mil milhões de pessoas deverão morrer em consequência de doenças relacionadas com o tabaco». Claro que outros mil milhões devem morrer por causa de doenças relacionadas com a comida e mais uns outros mil por causa do que bebem, sem contar com os que morrem por causa do que cheiram. É claro que neste mundo de culpados, o que ninguém liga é aos que morrem de velhice. Quanto a esses, quem haveríamos de culpar se não à vida porque os trouxe, se não à morte porque os levou?

O Tarrafal, logo agora

Edmundo Pedro insistia que era de facto tarde para Jorge Sampaio estar a homenagear as vítimas do Tarrafal, o jornalista, em «voz off» insistia que mais uma vez se fazia a homenagem. Com tanto sim e não a questão colocou-se por si: porquê agora? A vantagem de haver televisão nestes casos é grande, porque a gente vê. E vimos todos, Jorge Sampaio, a propósito do Tarrafal, chamar para a mesa, Manuel Alegre. Por mero acaso, porque não estavam lá os outros. Uns momentos depois Octávio Teixeira queixava-se que a imprensa não tinha noticiado. Pois não, era só para alguns. Coitado de quem morreu, porque em matéria de campanha vai tudo, os vivos e os mortos.
Enfim, porque com tudo isto, por uns momentos se lembrou o Tarrafal, escrevi aqui o que pouca gente sabe, a propósito de Cândido de Oliveira.

3.10.05

Uma questão de línguas

A simpática agência Lusa, sem a qual muitos governantes não tinham quem lhes ouvisse o triste piar, relata, a propósito de José Sócrates entusiasmado numa escola com o ensino do inglês: ««Good luck!», escreveu a giz, num dos quadros de aula, perguntando se os alunos sabiam que a frase significa «boa sorte», ao que eles, ainda com escassos minutos da primeira lição, agradeceram em português: «Obrigado!». Li isto com um aperto no coração, como se tivesse estado presente. É que a palavra escolhida é perigosíssima! Uma falha na primeira letra, uma caligrafia menos preceptível e lá tínhamos um «gaffe» difícil de gerir. Ah! E não pensem que sou maldoso na graça. «Good duck», naturalmente! Esse era o limite do risco e «honny soit qui mal y pense!». Sabem, meninos o que quer dizer? Ah! desculpem, é francês, de França, claro está.

O triângulo de ouro

Tarjetas anónimas, dinheiros privados, servidores públicos: está tudo nisto, o mais é pura especulação.

Terceira por terceira

José Sócrates e Mu`ammar al-Qadhafi têem algo em comum, Portugal e a Líbia é que talvez não. Este escreveu um livro verde que trata da terceira teoria universal, a que salvará a humanidade. Com um pouco de sorte, o português, recebido numa tenda, poderá escutar a delicada leitura de uns excertos. Embevecido, convencer-se-á que a saída não está na terceira via do Blair, mas na terceira teoria do líbio e Portugal, enfim, terá salvação.

2.10.05

Por falar em espalhafato!

«Dizem que Carmona Rodrigues não é Pedro Santana Lopes, pois não, é pior. O que Pedro Santana Lopes faz com espalhafato, Carmona Rodrigues faz pela calada», disse Sá Fernandes. Vistas as coisas por este ângulo a diferença entre o melhor e o pior é na política a que distingue o espalhafatoso do silencioso. É como se entre dois automóveis com o motor estafado, se preferisse o que não desse ratés. Só que nesta situação, cuidado! É que, como diz o povo, o calado vence sempre!

1.10.05

O mundo das sombras

Talvez haja muito para se dizer sobre muita coisa. Mas hoje, enclausurado que estou, a reconstruir-me, trabalhei aqui. Há que tempos isso não acontecia!

Os desmesurados

O jornal Público dá nota alta a Alberto Costa por ele ter enfrentado os magistrados e as suas regalias desmesuradas. Conta-se que no tempo da outra senhora alguém perguntou a um dignitário do poder como poderiam os juízes viver com os ordenados míseros que lhes pagavam. E conta-se ainda que a resposta terá sido um olhem, eles que casem com lavradoras ricas. Foi assim que a coisa começou. De mesura em mesura, até à desmesura total.